segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Herança

Este post já anda na minha cabeça há algum tempo! À espera de uma qualquer "neura", para o poder escrever! É, há posts que só consigo escrever quando estou "de neura". Este é um deles!
Já se percebeu que o "outro homem da minha vida" é o meu pai. Como rapariga, sou a "menina do papá"! Mesmo! Completamente e assumidamente a "menina do papá"! E, como fui a última... dobrem, tripliquem a "menina do papá"! Não querendo dizer com isto, que fui uma menina mimada. Não. Não o fui. Talvez pela idade, o meu pai sempre achou que tinha que me preparar para o mundo lá fora. E com alguma rapidez. Não sabia quanto tempo cá estaria.
Um mundo que ele, felizmente, conhecia muito bem. Teve uma vida cheia, extraordinária. É das poucas pessoas que pôde dizer, no final da sua vida: fiz tudo o que quis! E fez! Teve sonhos, foi atrás deles e concretizou-os. Acho que quase todos! Até fazer um vinho de uma região demarcada, fora dela! Conseguiu! E, diziam os entendidos da altura, melhor que alguns da dita região. Teve uma filha, quando já era avô. Pois, ele referia-se a nós os dois como: "eu sou pai-avô e tenho uma filha-neta". Com o ar mais convencido, mais babado que possam imaginar. Inchava o peito, quando falava de nós os dois! Tenho algumas fotografias nossas e, em todas elas, se vê o orgulho dele. Não só orgulho de mim, mas também dele mesmo! Era muito vaidoso, o meu pai!
Tinha uma inteligência assombrosa. Passou a vida toda a estudar. Estudava tudo, interessava-se por tudo. A minha imagem preferida é aquela em que ele está sentado à mesa, soterrado de livros, com os óculos assentes no meio do nariz, maço de tabaco e cinzeiro de um lado, e do outro a caixa dos óculos e as duas canetas "Parker" que usou toda a sua vida: uma azul e outra vermelha. À frente dele, os dossiers, os dois livros que escreveu e nunca publicou. A escrever. É assim que gosto de me recordar dele.
Durante os anos que convivemos, ouvi-lhe vezes sem conta três provérbios, que lhe serviram de guia, de inspiração, de fio condutor das suas acções. Dois deles, foram seguidos à risca. Tenho vários exemplos disso e eu sou um deles!
"Os cães ladram e a caravana passa". Simples, não é?! E tão verdadeiro! Não é pelo falatório que devemos deixar de fazer as coisas. Nenhuma caravana pára porque os cães ladram. Nunca devemos deixar de fazer o que queremos só com receio do que vão dizer. Assim que a caravana passar, os cães voltam-se a calar. É verdade! Como filha dele, "bebi-lhe" os ensinamentos e também uso o mesmo lema. E tem sempre um excelente resultado: as pessoas calam-se! Acabando a novidade, acaba o falatório! Já o fiz, assim como ele, mais que uma vez. Não parámos. Fomos em frente, com plena consciência de que iam falar e que depois se iam calar! E chegámos onde queríamos!
" A ferida cura-se com o pêlo do mesmo cão". Estranho, não é? É como uma enxertia de pele. Um boato acaba quando se torna verdade. Deixa de ser boato. Deixa de haver motivo para conversas sussurradas! Ou um amor que se cura com outro amor. E deste, nasci eu! Só pode ser um bom provérbio!
" Não é com vinagre que se apanham moscas". O menos seguido. O nosso feitio (o meu e o do meu pai) interfere! Por vezes, a nossa intenção é dar "mel", mas... acabamos a bombardear! Ou melhor, a dar vinagre às moscas, porque perdemos as estribeiras. Mas tentámos começar por aí!
Percebe-se onde fui buscar a obstinação, não percebe?! Dá para perceber alguns dos meus actos, não dá?! Sob estas três luzes, entende-se muito do que têm sido as minhas opções de vida. Sem arrependimentos. E sempre, mas sempre a fazer o que eu quero, como eu quero, quando eu quero! E os cães que ladrem!

2 comentários:

  1. ...Pois era bom que assim fosse... no entanto... por mais que não se queira pára-se ou mesmo abranda-se a ver os cães ladrar... e nesse momento, por mais breve que seja, sente-se qualquer coisa, por vezes deixa lá a semente para um dia qualquer, juntar-se a mais outra, e outra, que por lá anda... e aí a coisa entorna...
    ...a não se que sejas um ser frio e calculista, coisa que julgo não seres,...
    já te vi parar a ver os cães ladrar ..

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  2. Anónimo(a):
    Não, efectivamente não sou um ser frio e calculista ou, pelo menos não me tenho nessa categoria...
    É, tens razão (não sei quem és, mas isso não importa), já parei para ver os cães ladrarem. Mas tenho a noção que, depois, continuei em frente e "arrumei" o que fez com que os cães ladrassem!
    Ah, só mais uma "coisinha": se a coisa "entorna", eu assumo! Sempre! Seja o que for! Digo muitas vezes que tenho umas costas bem largas para arcar com o que faço! E se me conheces, deves saber isso bem! :-)

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