quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Psssst...


...ah,ah,ah,ah!

sábado, 8 de outubro de 2011

sábado, 1 de outubro de 2011

Pão quentinho...

... e a importância de levantar a mesa do pequeno almoço:

(...)" encurralas-me contra a mesa posta para o pequeno-almoço, as duas chávenas coloridas no centro dos dois individuais e no meio os frascos com o doce de gila e a compota de maçã, a favorita dele. À sua lembrança, consigo até sorrir-te como se não estivesse a morrer e tento encaminhar-te para a saída com a firmeza gentil de um cão-guia, mas tu agarras-me pelos ombros e deitas-me na mesa sem fazeres qualquer esforço, embora pareça que sim. Entramos então em guerra, numa pegadilha de bocas e pernas, de mãos e línguas e unhas. Demoras-te de modo insuportável antes de entrares em mim, queres que suplique embora saibas que isso nunca acontece: não preciso. Abres o frasco que rola pelo bordo da mesa e espalhas com dois dos teus dedos a compota favorita dele na minha barriga. Lambes-me o umbigo com gula e eu penso que nunca houveramos feito nada de tão cruel - nem nos seminários inventados, nem nos motéis suburbanos a meio da tarde. Abafo um grito quando me entras e esbracejo – não sei se de pânico se de gozo - e as chávenas caem por fim, espalhando pedaços coloridos de porcelana barata no mosaico preto. A velha do andar de baixo, que está cega mas não é surda, pensa que foi o gato, que às vezes a espreita do beirado, e sorri. Entretanto, eu recuso-te, enquanto me abro e palpito: sou uma flor carnívora em olímpica amplitude. Venho-me de olhos fechados, a gritar não e a afastar-te do meu corpo, prefiro abraçar uma mesa. Sempre assim, é sempre assim: tu a demorares-te na entrada e a demorares-te a entrar em mim, a fazeres com que eu grite e com que os vizinhos nos ouçam, as partires as minhas chávenas e a estilhaçares-me o quotidiano. E eu a fingir que não quero, que és tu que me obrigas, que ele prefere o doce de gila e que o barulho foi o gato."