quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Mulher de Fibra I

Este "bloguinho de notas" foi criado para preservar muitas das histórias que se vão passando na minha vida. E a minha vida não é só presente. É também passado, muito passado. Algum muito bom, mesmo muito bom e outro menos bom.
Para ser o que sou hoje, tive na minha vida pessoas muito importantes que, não só me ensinaram muito do que sei hoje, como também me serviram (e servem!) de exemplo. E que tantas, mas tantas vezes me servem também de guia!
Eu não entendo alguns dos medos da clonagem! Jamais conseguirão fazer alguém igual a mim. Ou a qualquer um de nós! Pode ter o mesmo cabelo, os mesmos olhos, a boca, as mãos, mas... não vai viver o que nós já vivemos, nem sentir o que sentimos. O barulho do vento é igual, o som do oceano também, morangos sabem a morangos, mas ... e o som da voz da Avó!? O toque das mãos dela?! O tom de voz que usava para ralhar connosco?! E para nos mimar?! E as histórias que inventava para tomarmos o remédio?!
Pois é, também tinham que fazer um clone dela! Que também não seria igual!
É isso mesmo, vou falar da minha AVÓ!
Que não era minha avó de sangue, mas eu amava-a mais ainda por isso: ela escolheu-me para sua neta e eu escolhia para minha avó. Quando fizemos esta escolha não sabíamos que ia ser para a vida toda. Eu era a filha do Sr. Dr., que morava no "casarão" do lado, e ela era a mulher de um tipógrafo, que tinha uma "taberna" mesmo ao lado da casa do Sr. Dr.. E era preciso que alguém ficasse com a menina, de vez em quando. A avó do lado da mãe já tinha morrido, e a avó do lado do pai, tinha na altura, 90 anos. E claro, que as criadas da Senhora não estavam para "aturar" a menina. Sem perceber muito bem como (já não lhe posso perguntar) foi parar lá a casa.
É engraçado, porque me lembro da casa: rés do chão, onde era a taberna, um longo corredor que dava acesso ao pátio de trás e o 1º andar, que era a habitação. E a minha avó, com três filhos a crescer, tratava da "taberna", da casa, dos filhos e de mim! Sim, porque o marido estava a trabalhar o dia todo, só vinha à noite e gostava muito de beber. Esclareço já: tinha "bom vinho", ou seja, quando bebia não aborrecia ninguém. Só a minha avó é que ficava cheia de vergonha.
Sempre que os meus pais tinham que sair, eu ficava lá em casa. Havia uma cancela, no fim do corredor do 1º andar para a menina não cair pelas escadas.
E eu gostava muito dela, e gostava de lá ficar em casa.
E a menina cresceu, começou a perceber o mundo que a rodeava e o Pai achou que não era sítio para ter a menina. Afinal era uma taberna e ela era filha do Sr. Dr.. Não que isso lhe importasse muito, a história da "separação das classes" provocava-lhe grandes acessos de fúria! Eu tive o privilégio de assistir a alguns! Talvez por esta sua faceta, o Sr. Dr. decidiu que aquela senhora era a ideal para continuar a tomar conta da menina, sempre que fosse preciso.
Abençoada decisão do meu pai!
E vamos ficar por aqui. É que enquanto estive a escrever, na minha cara rolaram sem parar, umas lágrimas enormes, gordas, que me caiem em cima do teclado, enevoam-me a visão e me atrapalham. São lágrimas de imensa saudade, de muito carinho misturado com muita frustração por já não a ter. Algumas dessas lágrimas são por ela não ter conhecido o meu filho. E por o meu filho nunca a conhecer. Ela que iria reconhecer, cheia de orgulho, a menina que criou no miúdo que eu estou a criar!
Chamemos-lhe I. Os outros virão, a seu tempo.

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