Num destes jantares, quando já estava tudo contagiado pelo riso, alguém pergunta: - Olha, onde está o dvd do "Jardim dos Amigos"? E alguém responde, a rir e com ar de troça: - Está aí, na sala, ao lado do Kamasutra!!! Um terceiro elemento, sentado à mesa da cozinha, diz o seguinte: - Eu tenho uma edição, não tenho é homem! Para além das consequentes gargalhadas, o elemento sentado à mesa da cozinha, foi "brindado" com este comentário, vindo da sala: - Qual livro, eu tenho melhor: descarreguei um documentário da net!
Há muitos, muitos anos atrás, quando eu era uma "miúda espevitada", adquiri a "meias" uma edição do Kamasutra. Corria o ano de 89, eu estudava no Porto e vivia num apartamento com mais 7 mulheres. Todas da mesma idade, a estudar no mesmo sítio, sendo que com uma delas eu tinha uma forte relação de amizade, desde que éramos miúdas.
Então, numa tarde de outono em que chovia a potes, numa daquelas tardes escuras, típicas do Porto com chuva, e estando nós a conversar sobre homens, sexo, homens, sexo e mais sexo, alguém se lembra do Kamasutra! Ora, nós nunca tínhamos visto o livro, só ouvido falar. A conversa desviou-se para a importância do dito livro. Já se tinha ouvido falar tanto sobre ele, que era uma obra de referência, ilustrada, supostamente um guia, um livro de ensinamentos. E nós andávamos a dar os "primeiros passos" em termos de sexo... queríamos saber tudo!
Sempre fiel à minha vontade de aprender e achando que os livros são os nossos melhores professores:
- Olha C. , veste-te, anda, são quase 6 da tarde, se nos despacharmos ainda apanhamos as livrarias abertas em S. Catarina...
- 'Tás maluca! Chove a potes! Tu és doida! Com que cara é que vamos pedir o livro?? Eu não tenho lata! O que é que vão pensar? Eu não peço nada! Tu és maluca! Deixa lá isso!
- Vá, anda, eu peço! Eu não tenho problemas! Ninguém me conhece! Mas despacha-te! Ainda temos muito que andar para lá chegar! Depois as livrarias fecham!
Lá arrastei a C. de casa, e fizemos o caminho desde a rua do Bonfim até S. Catarina a pé, debaixo de chuva. Chegámos à livraria (não sei qual, só me lembro que ficava numa esquina!) e, claro, lá tive eu que pedir o livro. Ok, eu sou espevitada, mas não tanto e disse ao empregado, em jeito de explicação, que era uma brincadeira para um amigo que fazia anos! Ele indicou-nos uma prateleira com várias edições. A C. com aquele ar atrapalhado, nem pegou nos livros! Corada, a olhar para todos os lados, não fosse aparecer alguém que nos conhecesse e nos visse com o Kamasutra nas mãos. Eu ainda hoje me lembro de uma das edições: "hard cover", vermelha, ilustrada, linda... e cara! Muito cara para duas bolsas de estudantes!
Pois é, tivémos que nos contentar com uma edição "Europa-América", paper back, com meia dúzia de ilustrações a preto e branco e comprada a "meias"!
Chegámos a casa, enfiámo-nos no quarto e lá começámos a leitura. Certo é que não jantámos, e acabámos de ler o livro às 3 da manhã! Lembro-me da C. ir soltando os seus risinhos nervosos, ao longo da leitura, feita em voz alta por mim! A C. dizia, anos mais tarde, que as ilustrações lhe tinham feito falta. Eu não concordo. Ainda bem que não tinha imagens, porque a ideia não é copiar as posições, mas sim como lá chegar obtendo o maior prazer possível! Digo eu, a "anos luz dos primeiros passos"! Retenho na memória um dos meus capítulos favoritos: a arte do mordisco! Vá-se lá saber porquê!
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