quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A tradição já não é o que era...

Já estamos perto do Natal. Desde que nasceu o "homem da minha vida", que eu digo: "- É este ano! Tenho que o levar a Lisboa para ver as luzes de Natal!" E passa o mês de Dezembro e o puto continua sem lá ir, para ver as tão proclamadas luzes de Natal. Vamos ver se é este ano...
Era um ritual do meu pai, ir a Lisboa, pelo menos uma vez por mês. Mas era mesmo obrigatória uma ida antes do natal. Começou por ser para "abastecer" a casa do bom e do melhor, com artigos que só em Lisboa se encontravam e, com o meu nascimento, converteu-se em mostrar Lisboa à "menina"! Ficávamos sempre uma semana. A minha mãe desesperava: tanta coisa para fazer para o Natal, e o meu pai a perder tanto tempo em Lisboa. Durante essa semana, eu passeava na baixa lisboeta todos os dias!
Na altura, Lisboa tinha as iluminações de Natal mais fantásticas do país. Nenhuma cidade lhe chegava aos pés. Qual Funchal?! Iluminações de Natal eram em Lisboa! E eu amava! Mesmo! Lembro-me da minha excitação, ao chegar à Praça da Figueira e ver todas as ruas cheias de luzes. É a minha imagem de Natal preferida: a baixa de Lisboa iluminada para o Natal. A sério! Ainda hoje, lembrar-me disto, me deixa um sorriso tonto espalhado na cara! E uma vontade imensa de voltar a ser criança e andar por Lisboa, pela mão do meu pai...
O meu pai ia para o seu "santuário": a Livraria Bertrand, no Chiado. Passava lá grande parte dos dias! Mas organizava as minhas "visitas"! Na véspera de irmos embora, tínhamos um percurso bem definido: os Armazéns Eduardo Martins (de onde vinham os cortes de fazenda para os fatos e os tecidos finos para os vestidos), a mercearia fina Jerónimo Martins (as melhores frutas tropicais, que o meu pai fazia questão de ter na mesa de Natal, os figos secos, as nozes...), a Casa Batalha, enfim o "subir o Chiado"a fazer compras. Não esquecendo a visita à Havaneza, para comprar os charutos e a ida (sem mim!) ao Bazar Thadeus (de onde vieram algumas das mais fantásticas prendas de Natal que eu tive!).
Durante essa semana, eu e a minha mãe palmilhávamos toda a baixa: Rua da Prata, Rua do Ouro, Rua Augusta... Ou melhor, toda a zona entre o Martim Moniz e o Terreiro do Paço que tivesse comércio. Que eram quase todas as ruas! Fazíamos quilómetros! Mas o meu pai não deixava que fossem apenas compras: eram obrigatórias as idas ao Coliseu dos Recreios, para ver o Circo, ao Aquário Vasco da Gama, ao Museu dos Coches... Durante anos, vi todos os espectáculos de Circo de Natal, que passaram no Coliseu. Deve ser por isso que detesto Circo: overdose!
Faltam as castanhas! Que também era tradição comprá-las logo à entrada da Rua Augusta e percorrer a baixa com o pacotinho na mão, a descascá-las e a comê-las. E falta a história das escadas rolantes nos Armazéns Eduardo Martins, as histórias da Livraria Bertrand, dos "Duchaisses" com chocolate quente, na Pastelaria Suissa, e os bifes panados com esparregado, no Novo Dia... faltam tantas histórias aqui... Ah, a história do Bolo-Rei, que vinha pelo correio todos os anos, da Pastelaria Castanheira, ali nas Portas de Santo Antão, e que trazia sempre dois brindes...
Histórias vividas a três, com Lisboa como pano de fundo. Uma Lisboa que já quase não conheço, mas que continua na minha memória, tal qual lá estivesse estado ontem, pela mão do meu pai!

4 comentários:

  1. Infelizmente, uma Lisboa que já quase não existe...!
    Quando vivi em Lisboa, também a zona do Chiado era a minha favorita. Ai os lanches semanais na Pastelaria Ferrari com a minha madrinha... o melhor batido de morango que alguma vez bebi!
    Em 1988 toda essa zona foi destruída por um incêndio brutal, apagando de vez com a maioria dos locais emblemáticos do Chiado que tão bem descreves. E não voltaram; hoje o Chiado nada tem a ver com o passado. Praticamente todas as lojas que mencionas foram substituídas por lojas que se encontram em qualquer shopping deste país... tudo sintético... a imagem de luxo e sofisticação que o Chiado emanava desapareceu para sempre.
    Amei a forma como descreveste as tuas memórias do Chiado... é bom termos recordações dessas!
    Mas as luzes de Natal ainda lá estão... à que levar o puto!!!

    ResponderEliminar
  2. Pois é, tu na Pastelaria Ferrari e nós na Pastelaria Suissa! Era o poiso do meu pai! O Nicola também! Ambos ficavam no caminho para o Chiado e o meu pai, que já andava mal na altura, fazia várias paragens para descansar e conversar! Mas era na Suissa que fazíamos quase todas as refeições.
    Meus Deus, está-me a crescer água na boca só de pensar nos "Duchaisses" com chocolate quente... :-DD

    ResponderEliminar
  3. APRE!!!!! Ó VELHAS!!!!! Credo, quem vai mostrar as luzes ao puto, sou eu!!!! A TB, claro!!!!

    E a seguir vamos comer um bife à Portugália, beber um copo ao SpeakEasy.... A seguir outro nas Docas... Se ele se portar bem vamos ao Lux, mas certo certo é que vamos acabar a noite no "meu" Plateau.... Isso sim, faz-me crescer água na boca..... Os bacardis com o B...

    Sim, eu também vivi em Lisboa, mas já foi neste Século!!!!!

    M, não desesperes.... Há uma luz ao fundo do túnel: e aterra em Lisboa lol lol lol

    ResponderEliminar
  4. Independentemente de terem como pando de fundo Lisboa ou outra cidade qualquer do mundo,é um privilégio ter memórias de infância tão doces, quentes e reconfortantes. Penso que desempenham um papel importante na estruturação da nossa personalidade, acredito que nos tornam pessoas melhores e dão beleza às nossas vidas!
    Ter a oportunidade de desempenhar esse papel na vida de alguém que amamos tão profundamente é simplesmente MA- RA-VI-LHO-SO!
    Por isso toca a levar o rapaz a ver as luzes de Lisboa, de Coimbra, do Funchal ou da Cochinchina... mas fá-lo JÁ!!

    ResponderEliminar