Há uns anos atrás, um dos meus chefes dizia -me: - "Escreve! Escreve essas histórias todas! Não deixes que elas se percam com o passar dos anos! Olha, não sejas preguiçosa, escreve!" Um homem extraordinário, esse meu Chefe. Ainda hoje tenho por ele um carinho e uma admiração enormes. Um homem único. Tenho saudades desses momentos de "partilha" que nós os dois tínhamos! Passei momentos extraordinários com ele. Ensinou-me muita coisa...
Ficávamos horas a conversar os dois, depois das reuniões. Eu, que adoro uma boa conversa, ele que adora histórias! Desde o meu bisavô maçónico, às historias de como o meu pai conquistou a minha mãe, passando pelos "desastres" das jóias da minha avó, o naufrágio dos lugres, acho que lhas contei todas. E ele insistia, no fim de cada "ronda": - Escreve! Senta-te ao computador e escreve! Ou faz como antigamente, pega em papel e caneta! Mas escreve! Não deixes que essas histórias se percam..."
Sempre lhe disse que ia pensar nisso, mas escrever para quê? Para ficar armazenado no disco duro? Para imprimir e deixar as folhas amarelecer com o tempo? Não fazia sentido...
Quando criei este blogue, não me passou sequer pela cabeça contar estas histórias. No fundo são minhas e não são minhas. São património da minha família, são a história da minha família. Só fiz parte de algumas (poucas) e nem sequer são as que têm mais piada. Não me sentia no direito de as contar, de as escrever. Até porque, de algumas só sei pedaços e já não tenho a quem recorrer para preencher as lacunas. Mas, aos poucos elas (as histórias!) foram saindo do armário, devagar, devagarinho, foram espreitando... e acabaram por sair cá para fora!
Começou pela minha Avó emprestada (e muito bem, porque se estou aqui também lho devo a ela e ao carinho com que me ajudou a crescer), passando pelo meu pai (o meu ídolo!), pelo meu bisavô revolucionário... enfim, estou a fazer o que o meu Chefe queria: a escreve-las! De uma forma aleatória, anárquica, desordenada, misturadas com as minhas neuras, com os meus "recados", com os meus desabafos, com as crises de mau feitio; enfiadas entre postes de frustração, de raiva, de carinho, de amor, de nervos, de ansiedade, de abandono; encravadas entre os meus dias de "normalidade" (será que isso existe?) e os meus dias de "bipolaridade" (quem não os têm, que atire a primeira pedra!), elas vão passando para aqui, quase com vontade própria. Nunca sei quando me saltam da ponta dos dedos! Pode ser por causa de uma data, de uma foto, de um nome, de uma brutal neura, ou muito simplesmente por que me apeteceu!
E sabem que mais? Tem sido muito bom escreve-las! O meu Chefe tinha razão!
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