quinta-feira, 8 de abril de 2010

The answer: Dizer ou não dizer, that's the question!

 Em resposta a este post .

Se devemos ou não dizer "a" verdade? Qual verdade? Será que existe só uma? Não poderá haver duas verdades, duas formas de ver e sentir as coisas, duas formas de percepcionar o real, o que vemos e o que sentimos?? Ou até mais, se os envolvidos forem mais de dois. Não poderá haver duas, três, quatro verdades?? * Quando nos picamos num alfinete, todos sentimos dor, é certo, mas sentimos todos "a" mesma dor?? A mim, uma picadela doí-me durante horas... sou piegas, sempre fui! Existem pessoas em que uma picadela dura segundos, a dor evapora-se, parece magia. E é! Chama-se tolerância à dor. É a magia do nosso cérebro, a magia do "como se processam as informações", à luz das experiências que fomos acumulando ao longo da vida, ao longo das muitas picadelas que levámos. Se uma picadela de alfinete doí? A mim sim, doí! À Kimwane, por exemplo, não! Ou melhor, doí durante uns segundos, ela processa a informação e... a dor passa! Se eu menti quando disse que me doía? Não, não menti! Se ela mentiu quando disse que não doía? Não, não mentiu! Duas verdades, certo? A minha e a dela!

Se devemos ou não dizer "a" verdade? Sim e não! Ou melhor: nim!
Sim, quando a nossa consciência assim o exige, quando é para nós um imperativo moral (ou mesmo legal), quando a dita da verdade resolve situações que, de outra forma ficariam por resolver, quando a dita verdade "liberta" alguém ou algo. Mas, para mim é, sobretudo, quando a minha consciência assim o diz e quando essa verdade vai ajudar alguém ou alguma situação.
Não, quando de nada vai servir! Quando não vai mudar nada. Quando essa verdade não vai provocar alterações. Ou melhor, até a podemos dizer, porque a nossa consciência assim o dita, mas nunca impondo-a a outrem, obrigando o outro a ver pelos nossos olhos, querendo que o outro "leia" o mundo com a nossa cartilha, com a "nossa" verdade.
De que me serve dizer que vai doer, quando picas o dedo num alfinete, se sei qual é a tua reacção à dor (altíssima tolerância à dor)? Se te disser isso, estou-te a dizer a "minha" verdade, não a "tua" verdade. E de que te serve dizeres-me a mim, (piegas!) que não vai doer? Dizeres-me a "tua" verdade não me vai servir de nada, porque a mim (piegas!) vai-me doer, exactamente na mesma. Vai passar, é certo. Ambas são verdade. Ambas podem ser ditas. Mas nenhuma pode ser dita como a única. Como "a" única!
Nestas coisas de "verdades" eu prefiro um meio termo (nim!):
"- Pode doer, se calhar vai doer. A mim doeu. Mas sabes, se doer, eu estou aqui. Eu ajudo-te a fazer passar a dor." Ou então: "- Não doí. A mim não doeu. Mas se te doer a ti, eu estou aqui. Eu ajudo-te a fazer passar a dor."

Existem "verdades" que não precisam, não necessitam, que não é imperativo que sejam ditas, porque o facto de serem ditas não vai mudar nada!  Precisam de ser vividas, sentidas, experimentadas, vistas, ouvidas, choradas, porque só assim se tornam "verdades"! Só assim causam mudanças, só assim provocam movimento! Um movimento que vem de dentro. É como picar o dedo no alfinete: sem picarmos o dedo, não sabemos qual é a "nossa" verdade!
Existem "verdades" que só quando nos entram pelos olhos dentro é que as vemos! Já todos nos tinham dito que "essa" verdade lá estava, nós até sabíamos, mas só quando "a" vemos, ao vivo e a cores, quando "a" sentimos, quando os nossos olhos "a" vêem, quando somos literalmente atropelados por ela, é que ela passa a ser a "nossa" verdade. E depois, que venham os ombros e os sofás, onde possamos "deitar tudo cá para fora", sem os "I told you so..." Que essas verdades passem a ser as "nossas" porque as vivemos, não porque nos disseram que eram as nossas!

Sim, "the truth will set you free". Concordo em absoluto, mas que seja a "minha" verdade, que seja eu a lá chegar,  porque essa sim, liberta-me por completo!

* Experimentem ler as declarações das testemunhas de um acidente de viação, recolhidas no local, e vejam como cada uma delas viu "um" acidente diferente!

2 comentários:

  1. Ora vamos lá ver:

    1. a dor que se sente após a picada dum alfinete é uma resposta fisiológica de defesa a uma agressão: esta corresponde à verdade, todos a têm/sentem (a não ser que tenham algum défice sensorial...); a forma como cada um a sente (maior ou menor intensidade, durante mais ou menos tempo) reflecte apenas a forma como cada um vive essa verdade única. Existem assim, diferentes formas de sentir a mesma verdade.

    2. um acidente rodoviário ocorreu apenas duma forma, essa é a única verdade; a forma diferente como cada um acha/descreve o que aconteceu/viu é fruto da percepção que tiverem da cadeia de acontecimentos rápida, mas o acidente aconteceu duma única forma. Neste caso, formas diferentes de ver a mesma verdade.

    3. Quando falo do valor da verdade, não me estou a referir aos exemplos anteriores. Nem tão pouco me estou a referir ou a defender o imperativo de dizer a verdade em todas as circunstâncias: por exemplo, não vou dizer a um desconhecido ou alguém que acabei de conhecer, e que eu acho, por exemplo feio, "Tu é muito feio!"... por todas as razões, inclusive pelo facto de que é uma percepção subjectiva (feio para uns, nem por isso para outros, ou até bonito para alguém... há gostos para tudo).

    4. Quando falo da importância da verdade (ou da não omissão/ocultação da verdade, que era o objectivo do post), estou-me a referir ao valor da verdade entre duas pessoas que tenham, por exemplo, uma relação de amizade ou até amorosa. A meu ver, "sentir" ou "ver" a verdade são percepções muito pessoais, individuais e, assim, muito subjectivas. E até mutáveis ao longo do tempo. São/podem ser, por vezes, guiadas pelo o que se "quer" ver ou sentir naquele momento. E também porque o que se "vê" ou "sente" pode basear-se em acções que podem ser deceptive or misleading na sua base. Esse processo (o de não conhecer a verdade e ficar pelas percepções) é que é doloroso para mim... e como não sou masoquista, eu prefiro que me digam a verdade, que me esclareçam as dúvidas, whatever, doa o que doer no imediato...
    And this was the point of my post! A MINHA forma de estar na vida e da minha relação com a verdade! Mas cada um vive como quer, é um direito inalianável!

    heartsmurmurs.blogspot.com

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  2. Ora, face às dissertações acerca da verdade e não verdade, dizer ou não dizer, mentir ou omitir, a minha opinião é a seguinte:

    - concordo plenamente com o anónimo nos ponto 1, 2 e 3.

    - nos restantes pontos penso que por vezes somos egoístas na gestão da verdade, porque avaliamos a necessidade dela ser verbalizada à luz do alívio que essa emissão nos trás(de consciência tranquila, para remissão por algum "pecado" cometido, em nome de uma moralidade que é apenas nossa).Penso que há situações que devem ser avaliadas à luz do que aquela informação irá provocar na outra pessoa: será que vale mesmo a pena contar tudo, sabendo o sofrimento que se pode estar a causar a terceiros, em nome de uma falsa moralidade, para nós ficarmos de consiência tranquila de que fizemos bem e praticamos o que está certo??
    Não vejo assim. Penso que não há uma forma certa de gerir a verdade.. haverá situações e situações... mas certamente haverá situações em que mais vale nao dizer tudo....

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