Eu não escrevo bem. Eu escrevo. E desde que me lembro, que o faço. Gostava particularmente das redacções, quando andava na escola. Tinha sempre boas notas: bom vocabulário, sem erros, por vezes com falta de acentos e excesso de pontuação, é certo, mas ainda assim era um dos meus "fortes".
Para além das redacções obrigatórias para a escola, eu fazia outras, muitas outras, que o meu pai corrigia e guardava. Ele guardava, mas a minha mãe punha fora, nas sua "limpezas".
Continuei sempre a escrever. No Liceu fizeram um Concurso Literário. Concorri. Para meu grande espanto, ganhei! Um texto simples, alegre, divertido, bem disposto, tal qual eu era na altura. É o que me lembro, porque não o tenho. Perdeu-se, nas "limpezas" da minha mãe. O meu pai ia rebentando de orgulho. Também não foi muito além do "Parabéns minha filha", mas nessas palavras estava todo o seu orgulho. Essas palavras, ditas com a voz embargada, de quem tenta a todo o custo segurar as lágrimas, foram para mim o maior dos elogios. Não conseguiu assistir à entrega do prémio. Morreu alguns meses depois.
Os desabafos com o papel continuaram. No ano seguinte, voltei a concorrer. Voltei a ganhar! Desta vez ainda com mais espanto meu, porque era um texto pesado, sofrido, escuro, carregado tristeza, de dor, de impotência. Era sobre o mar, as tempestades, as tormentas e as vidas sofridas dos pescadores.
Não, afinal era sobre mim. Mas os pescadores "falaram" por mim, obriguei-os a expôr o que me ia na alma, passei para eles a dura tarefa de contarem o que eu calava. Não o tenho... é, as "limpezas" da minha mãe.
Eu escrevo porque me faz bem, porque preciso, porque é a minha forma de desabafar, de pôr cá fora o que trago cá dentro e, que tantas vezes me magoa. Alguns dos posts deste blog são verdadeiros momentos de catarse, onde defronto demónios, encaro fantasmas, em que choro muito a escrever e onde, camada a camada, vou despindo o conflito, até o pôr a nú, diante de mim. Deles nascem, por vezes, resoluções definitivas, onde expulso os demónios, desanco os fantasmas e enterro o passado, tentando aprender alguma coisa.
Até podem ser posts de uma só frase, mas nessa frase, nessa linha, vai tudo o que está cá dentro. O Bom e o Mau.
Não sei escrever bonito, não sei fazer floreados, não sou escritora e nem o quero ser. Não tenho imaginação para contos, não sei romancear, nem sei embelezar o que me vai na alma. Não escrevo para os outros, não escrevo para ter elogios, não tenho vaidade no que escrevo. Não me inspiro em ninguém e nem quero que ninguém se inspire em mim.
Escrevo tal qual sou: clara, curta e grossa! Sem rodeios. Igual aos textos que escrevia quando estava no Liceu... Só que aqui, no blog, não tenho as "limpezas" da minha mãe!
(E escrevo a preto "sobre" branco! Não sei escrever em cinzento!)