domingo, 5 de fevereiro de 2012

Receita caseira, feita com colher de pau!

Se é possível ter uma relação a vida toda?! Ou mesmo para o resto da vida?! Sim, claro que é possível! Agora, não será é nada fácil. Não existem formulas mágicas, nem receitas milagrosas e ainda não se vendem "relações instantâneas", daquelas que é só juntar água e... já está! Nem conheço manuais que ensinem a ter relações perfeitas (perfeição também não existe!) ou ditas normais.
É daquelas "cenas" onde até a generalização é perigosa: não existem duas pessoas iguais, nem duas relações iguais! Até nós somos diferentes de relação para relação. Comportamo-nos de forma diferente perante situações idênticas, consoante a pessoa que temos à nossa frente. Aqui também costuma entrar o passado, se lidámos bem ou mal com o que está para trás, se soubemos ultrapassar traumas, dramas, se temos ou não coragem de percorrer um caminho semelhante... porque nos pode levar a um desfecho semelhante... ou a um desfecho totalmente diferente...
Não me refiro às relações dos vinte anos, em que tudo é novo ou nos parece novo, em que ainda temos uma certa capacidade de acreditar que "tudo vai ser diferente".  Nessas não levantámos estas dúvidas. Podemos ter tido várias e ainda assim, continuámos a acreditar!

Mas, a partir de certa altura (impossível de nomear: pode ser idade, intensidade da relação anterior, forma como acabou, sei lá... todos temos triggers diferentes), parece-nos que tudo se pode repetir, da mesma forma, da mesma maneira ainda que com pessoas diferentes. E pomos em causa a possibilidade de termos ou de encontrarmos alguém com quem nos seja possível passar o resto da vida... Ficamos cínicos, desencantados e deixamos de investir em quem nos aparece pela frente...
Não deixamos de tentar ter relações, mas não as vivemos da mesma maneira, não entramos nelas de "corpo aberto"... entramos, simplesmente... e esquecemo-nos de levar connosco uma serie de ingredientes que deveriam ser obrigatórios (e eu, pecadora me confesso: também não tenho levado todos comigo...alguns precisam de trabalho e nem sempre tenho estado para "aí virada"... perdoem-me, portanto, a arrogância que vou ter ao nomeá-los! ).

Tolerância, compreensão, respeito pelo outro, respeito pelo "passado" do outro, diálogo (muito!), confiança (ainda mais!), capacidade/vontade de perdoar (imprescindível, porque todos nós erramos), independência (pelo menos para mim, que não acredito que dois possam ser só um), vontade de construir... e, detenho-me neste, porque me parece que é ainda mais importante que todos os outros... mais uma vez, perdoem-me lá a arrogância!
Vontade de construir! Uma relação é uma construção. Ou se constrói ou não existe. E, ou se tem vontade ou não! A paixão até nos pode iludir durante uns tempos, mas chega sempre uma altura em que, olhamos para trás e, ou temos ou não temos alicerces para continuar a construir.
Sem vontade de construir uma relação,  para nada nos servem os outros ingredientes. Mas são igualmente bons para amizades ou relações familiares. Agora, é preciso vontade para construir uma vida a dois... dá trabalho, não é só pôr ao lume e deixar lá ficar... e é diário, quer se esteja longe ou perto! Custa saber dosear os outros ingredientes: nunca sabemos se os estamos a usar na dose certa. E sem vontade, quem é que quer este trabalho todo?! Claro que este trabalho compensa, mas é preciso ter vontade para o fazer. E dos dois lados, se não, o "caldo entorna"...

Não, isto não dá para fazer na Bimby... e mesmo aí, temos que cortar os ingredientes e prepará-los... e se não tivermos o livro de receitas, não soubermos cozinhar e não tivermos vontade de aprender, corremos sérios riscos de não acertar com os temperos... Lá está, não é só pôr ao lume e ir embora... É preciso vontade para andar a "rondar" a panela, destapar, provar e dosear os ingredientes... e como eu disse que não havia receitas para relações: não dá mesmo para fazer na Bimby!!! É pôr ao lume, arregaçar as mangas, pegar na colher de pau e ter paciência para acertar com a "nossa" receita. Com ou sem avental, fica ao critério de cada um... ;-)

Mesmo com vontade e trabalho, podemos não ser bem sucedidos. Mas tentámos! E eu gosto de ficar de consciência tranquila... Não resultou?! Mas eu esforçei-me! Eu tive vontade de construir! Mas não quero deixar de acreditar é possível ter uma relação para o resto da minha vida!

(E agora, vou imprimir o que escrevi e colar no espelho da minha casa de banho, com a seguinte instrução: LER TODOS OS DIAS, ANTES DE LAVAR OS DENTES! Pelo menos 3 vezes por dia, tomo o meu próprio remédio! ;-)

2 comentários:

  1. I´m speechless... aliás, minto, tenho imensas palavras! … são duas e meia da matina, e estava-me aqui a roer… não queria escrever, but why not?....

    Quantos anos LEE?...quantos anos passaram desde a nossa adolescência?...desde aquele par de anos em que este tipo, à época introvertido, confidenciava-te as suas 'deambulações' pelo ‘novo mundo’ de relações entre duas pessoas que se lhe abria pela frente?... a tua sobrinha?..lembras-te?... yap… hoje esboço um sorriso quando faço uma retrospectiva do que foi a minha vida desde essa altura no que concerne aos meus relacionamentos… ingenuidade, imaturidade, falta de paciência muitas vezes, concordo, mas uma verdadeira aprendizagem que me levou a concluir exactamente, sublinho, exactamente, numa percepção tal como a que descreves no teu texto!... terá sido uma aprendizagem positiva? Será que chegados a esta altura de vida o modo como percepcionamos as coisas são melhores ou, pelo contrário, piores??...são na verdade diferentes, mas certamente mais maduros, as nossas necessidades são outras…

    LEE, nos meus últimos 15 anos percebi que a construção, tal como tu a referes, é uma componente primordial num relacionamento, em conjunto com a dose certa de amizade e cumplicidade que têm de surgir naturalmente…

    A paixão? Isso esfuma-se, é efémero… mas… se tiveres as outras componentes, ela poderá continuar a existir de uma forma diferente, mas igualmente compensadora…talvez, mais matura.

    Hoje, e após uma adolescência ingénua, uma pós-adolescência imatura, um inicio de vida adulta hiper-confuso que se estendeu até há 4 anos atrás, compreendo que a construção de algo, é o que procuramos… e por construção não me refiro apenas, mas também, ao que se pode considerar o mainstream de uma relação normal... casar, ter filhos, blá, blá… e por aí… o que importa é que ambos compreendam qual o rumo que querem ter em conjunto e, acima de tudo, que entendam que dois não são um, e que a individualização de cada é importante para que o ‘dois’ funcione na perfeição, ou pelo menos perto dela, ou até mesmo na tentativa de a alcançar… trabalho? Imenso!... é uma luta diária, uma luta boa… nem se devia considerar uma luta, para dizer a verdade… será mais um catalisador que nos impulsiona para a frente.

    LEE, que posso eu dizer que já não tenhas dito?...

    Quanto ao resto minha amiga… não deixes de acreditar, porque na verdade as coisas acontecem muitas vezes sem darmos conta… falo por mim… e de repente surge-nos à frente das nossas ‘bentas’ aquilo em que acreditamos… conselho? – se um dia surgir a dúvida ‘e se?’, não a coloques, age, avança, não deixes de passar por essa porta para o novo universo que está para lá dela…

    Outra coisa…para terminar… :) … apesar de anos de ausência, diria já, décadas de separação, sinto-me, apesar disso, imensamente bem por perceber que não me enganei nos verdadeiros amigos que fiz ao longo da minha vida… foste e, verdadeiramente, és, uma grande amiga de quem custa estar separado porque, na verdade, parece que crescemos juntos pela forma como os nossos pensamentos e percepções convergem.

    Have a good nigth's sleep … vou dormir que se faz tarde ;)

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  2. Meu querido JB:

    Vinte e muitos anos passaram desde os nossos tempos de liceu...Sim, lembro-me da minha sobrinha... ;-) E tu, deves lembrar-te da minha paixão, assolapada e platónica, por um certo basquetebolista... :-D

    Provavelmente chegámos às mesmas conclusões, porque temos a capacidade de olhar para "trás" com espírito crítico, com vontade de aprender alguma coisa, depois de tantas "cabeçadas"... eu gosto de pensar que sim, que aprendi alguma coisa: que as minhas "cabeçadas" não foram em vão, mas sim um processo de crescimento e, quiçá, de alguma maturidade adquirida pelo caminho. Se calhar não lhe devia chamar "cabeçadas"... não me arrependo de nenhuma, porque aprendi alguma coisa com todas! :-) Jamais chegaria às conclusões deste post, se não as tivesse vivido e sentido intensamente! Fazem parte de mim, de quem sou agora e da forma como aprendi a olhar os outros, as relações e o mundo! E tenho a certeza que tenho ainda MUITO MAIS para aprender!

    Olha, estamos os dois mais ricos! Porque pobres são aqueles que passam pelas experiências e nada tiram delas! Já nós os dois... ;-)

    Por mim falo: acho que adquiri "alguma" serenidade! Gosto da minha vida, ainda que sempre tão cheia de curvas e contra curvas... (se bem que gostava de ter algumas rectas, de vez em quando!) É a minha vida, escolhida por mim, e não pelas ideias ou vontades dos outros! Posso ou não partilhá-la, mas se não a partilhar, eu continuo em frente.

    Se eu já estou na fase de "seguir em frente, com ou sem companheiro", tu vais entrar noutra, em que 2 dão origem a 3! E o trio vai trazer novos desafios aos 2! Principalmente o de não te esqueceres que, mesmo com o 3º, vocês os 2 continuam a existir! E existem enquanto indivíduos e enquanto "casal", não só enquanto progenitores! E este vai ser um GRANDE desafio: encontrares o equilíbrio entre todas estas forças!

    Mas confio em ti! :-) Muito! :-) Não é à toa que, vinte e muitos anos depois, voltamos a convergir em ideias, pensamentos e percepções! Ainda que de uma forma "virtual"... mas o entendimento entre os dois é igual ao dos tempos de liceu!

    Ah, e podes sempre contar comigo, para te lembrar que, antes de seres "pai" eras "companheiro"... juro que te bato se te esqueces disso! Mesmo sabendo que vais AMAR o teu papel de pai... :-) Porque vais e também vais ser um pai extraordinário!
    Agora, livra-te de te esqueceres de continuares a ser o "companheiro" fantástico que tenho a certeza que és!!! :-)

    ps: Só lá mais para a frente, é vais perceber (bem!) este meu último paragrafo!!! ;-)

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