sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quão pequenas são as salas de espera dos dentistas

"Desalento", penso eu, enquanto ouço a conversa ao meu lado.
"Desalento" é mesmo essa a palavra indicada para o que ela está a tentar explicar à amiga. Ela, que bem se esforça para encontrar uma palavra que defina o que está a sentir, para fazer entender como se sente depois de uma conversa com (presumo eu) a pessoa de quem gosta. E na minha cabeça gira "Desalento"! Não "desamor", não "tristeza", não "desilusão", não "decepção", mas sim "Desalento".
Não consigo desligar da conversa, confesso-me uma "cusca", e lá vou ouvindo a história, cada vez com mais interesse. E o "Desalento" sempre a girar na minha cabeça, e nas palavras dela. Porque ele até diz que gosta dela e ela, finalmente assume que sim, que também gosta dele. E diz-lho. E ela espera o reconhecimento dos sentimentos que, afinal até são mútuos. "Desalento". Ela conta, não com alegria na voz mas sim com cansaço, que até está disposta a correr os riscos, a superar os medos (sejam eles quais forem), juntos, lado a lado, porque a dois é tudo mais fácil. "Desalento".  Ao que ouço, parece que ele se atrapalhou, se assustou, deixando-a sem resposta. "Desalento". Não, não foi sem resposta (eu continuo a ouvir atentamente), foi a aguardar uma resposta! E é "Desalento" que sinto quando ela diz que está à espera... E é "Desalento" que sinto nas palavras desanimadas, de quem acha que já perdeu a guerra e não percebeu como...
Chega a minha vez. Eu entro dentro do consultório, com o "Desalento" alheio a pesar-me nas costas, como se fosse meu...porque, se fosse, eu não saberia como tratá-lo!

( Definição de Desalento: abatimento, cansaço, desânimo)

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