Todos temos espaços, lugares cá dentro para ocupar. Com "ocupantes" transitórios ou definitivos, eles existem... mais ou menos como as gavetas: cheias de tralha ou com coisas importantes, mas nunca vazias. Alguém resiste a deixar uma gaveta vazia?! Se comprarmos um móvel novo, com gavetas, o que fazemos?! Ou já temos planos para o que lá vamos guardar ou tentamos arranjar tralha para enfiar na gavetas. Nunca ficam vazias por muito tempo...
Temos, portanto, tralha em algumas dessas gavetas, desses lugares. A sua função é apenas ocupar o espaço, para não estar vazio. Ninguém gosta de espaços, de lugares vazios!
Assim que arranjamos algo significativo, mais importante, substituímos a tralha: papéis, chaves velhas, isqueiros sem gás, cartões de visita, clips, berlindes, cenas que não nos servem para nada, mas que não temos coragem de deitar fora. Cenas que ainda achamos que nos vão servir, que nos vão dar jeito, que podem ser úteis ou coisas que nos fizeram sentir bem em algum momento. Só quando arranjamos outras coisas ou quando precisamos de espaço, é que lá vamos fazer uma limpeza. E aí, já não nos importamos de deitar a tralha fora, aliás, até nos interrogamos porque guardámos aquilo se não servia para nada... Afinal só lá estava para ocupar o espaço! Para não estar vazio!
Fazemos isto, temos esta noção, só quando temos algo diferente para lá por dentro... Até lá, deixamos a gaveta cheia de tralha e ainda pensamos que nos pode servir para alguma coisa. E vamos espreitar, de vez em quando, para ver se aproveitamos alguma coisa do que lá está dentro: abrimos a gaveta, revolvemos as coisas, tentamos dar-lhes um uso, encontrar-lhes um significado, um propósito e, mesmo que não encontremos, deixamos-las lá, à espera... nada temos para lá pôr, para ocupar aquele espaço, aquele lugar. Nada mais importante, mais significativo que nos faça pôr a tralha no lixo!
Eu sei, eu sei que há quem consiga ter gavetas livres de tralha, limpinhas, imaculadas, completamente vazias, mas nunca é por muito tempo...
Isto tudo porque eu abri a minha gaveta das tralhas!
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