Se pegarmos num texto, num mail, num sms, de quem nunca vimos, de quem não conhecemos e o lermos, o que ficamos a saber? O que nos dizem as palavras, amontoadas, alinhavadas, ordenadas por alguém que nunca olhámos, que nunca ouvimos, de quem desconhecemos a(s) história(s), a vida, o sentir? Será que podemos tirar conclusões? Serão essas conclusões certas? Significarão para nós o mesmo do que para quem as escreveu? Querem dizer mesmo o que lemos, ou ficam nas entrelinhas os olhares que não sentimos, as palavras ditas sem a voz e a expressão com que foram escritas (ou ditas)? Esses olhares não vistos, essas palavras não ouvidas e essa ausência de expressões, não valerão nada? Não trarão significados diferentes ao que estamos a ler? O que deixámos por ler nas entrelinhas? Conseguiremos, sem isso, perceber a intenção com que foram escritas? Conseguiremos mesmo ver quem está por trás das palavras escritas? Trará o papel ou o ecrã, a alma, as lágrimas, a raiva, a tristeza, a desilusão que se escondeu por trás das teclas e dos dedos?
E se categorizarmos essa mesma pessoa apenas pelo que lermos? Serão essas categorias correctas? Podemos adjectivar alguém apenas pelo que escreveu? E mesmo que nos informem, que nos contem, que nos confidenciem o contexto, estaremos a ser justos? Poderemos avaliar alguém apenas pelo que nos foi contado e pelo que lemos? Sem a conhecermos, sem termos olhado nos seus olhos, sem lhe termos visto os gestos, o modo, a atitude? Podemos construir uma identidade, uma personagem, uma imagem, mas será correcta, será que se aproxima da realidade? Não estaremos a construir com base nos nossos pressupostos, preconceitos, nos nossos ideais? E será que estes são os mesmos de quem está por trás do texto, do mail, do sms?